Da primeira vez que a vi, única que estive ao pé
dela, um vento malévolo rasgava as rochas. À beira da estrada nacional uma
placa castanha indicava-a: de tantas vezes ignorar o seu apelo decidi
aceitá-lo. A subida da encosta por um trilho de pedras ladeava uma sucata. O
limiar da aldeia, triste como o abandono, era um convite ao insondável. O vento
doía-me na pele à medida que subia, o frio gelando o suor dos passos. Plantas
rasteiras para lá do estreito trilho de pedras, duras como as próprias pedras;
pesando sobre mim, a ameaça de um céu pesado, obscuro como a cúpula vazia de
uma catedral. E então vi-a. Discreta elevação tumular, calhaus soltos, ventre
telúrico, estranho mistério. Rodeando-a, apenas o tempo, eterno como as
montanhas.
Passo
muitas vezes na autoestrada que a contorna. Procuro, com o olhar, discernir um
ponto longínquo, um lugar para lá da velocidade circunstancial da minha
existência. Procuro-lhe o perfil, um seio destacado do contorno ígneo do
crepúsculo, envolto no afago agreste do vento. Ela lá está, por detrás da
estação de serviço, sinalizando a porta que se abre para o outro lado do tempo.
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